As invasões holandesas
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O território
colonial brasileiro sofreu uma invasão holandesa, em 1624. Os motivos que
traziam os holandeses ao Brasil eram muito diferentes.
Para
compreendê-los, é necessário fazer algumas considerações sobre o período em que
Portugal (União Ibérica) esteve sob o domínio espanhol, bem como sobre as
relações internacionais da Espanha.
Após ter
emergido como potência europeia, a Espanha perseguiu o objetivo de unificar
toda a península ibérica, incorporando Portugal ao seu território. Os
portugueses resistiram enquanto puderam. Mas, no século 16, alguns
acontecimentos contribuíram para a Espanha concretizar seus objetivos.
Em 1578, o
rei dom Sebastião, último monarca da dinastia de Avis, morreu e não deixou
herdeiros. Então, o cardeal dom Henrique, único sobrevivente masculino da
linhagem de Avis, assumiu a regência. Com sua morte, em 1580, o rei da Espanha,
Felipe 2º; da mesma linhagem familiar, achou-se no direito de ocupar o trono
português e invadiu Portugal. O domínio espanhol sobre Portugal duraria 60
anos, até 1640.
Espanha e
Holanda
Contudo,
antes disso, Portugal já havia estabelecido relações comerciais com os ricos
negociantes holandeses, que passaram a financiar a produção açucareira no
Brasil e a controlar toda a sua comercialização no mercado europeu. Por outro
lado, no mesmo período, a Espanha pretendia dominar todo o território dos
Países Baixos, na qual a Holanda estava situada, pois a circulação de
mercadorias naquela região contribuía significativamente para abastecer os
cofres do tesouro espanhol.
Não
obstante, em 1581, sete províncias do Norte dos Países Baixos, incluindo a
Holanda, criaram a República das Províncias Unidas e passaram a lutar por sua
autonomia em relação aos espanhóis. Ao incorporar Portugal, aproveitando-se do
seu controle sobre o Brasil, a Espanha planejou impedir que os holandeses
continuassem a comercializar o açúcar brasileiro. Era uma tentativa de sufocar
economicamente a Holanda e impedir sua independência.
As invasões
holandesas
Os
holandeses reagiram rapidamente, concentrando seus esforços no controle das
fontes dos produtos que negociavam. Surgiu assim, em 1602, a Companhia das
Índias Orientais. Essa empresa, de porte enorme, se apossou dos domínios
coloniais portugueses no Oriente. Em decorrência dos êxitos desse
empreendimento, os holandeses criaram, em 1621, a Companhia das Índias
Ocidentais. Esta ficou encarregada de recuperar o controle do açúcar brasileiro
e monopolizar o seu comércio nos mercados europeus.
Para
controlar a produção e comercialização do açúcar era necessário ocupar e se
apoderar de partes do território colonial brasileiro onde ele era produzido.
Desse modo, contando com uma frota composta de 26 navios e 500 canhões, os
holandeses iniciaram sua primeira invasão do Brasil em 1624. Atacaram a cidade
de Salvador, na época o centro administrativo da colônia. Mas, um ano após
terem chegado, foram expulsos, sem grandes dificuldades.
Uma segunda
tentativa de invasão se deu em 1630, dessa vez em Pernambuco. Os holandeses
conseguiram conquistar as vilas de Olinda e Recife. Houve combates, mas os
invasores holandeses resistiram e estabeleceram o controle de uma extensa parte
do litoral brasileiro que ia do Sergipe ao Maranhão. A Companhia das Índias
Ocidentais nomeou um governador para administrar o domínio recém-conquistado,
que ficou conhecido como o Brasil-holandês.
Maurício de
Nassau
Para o cargo
de governador, foi nomeado o conde João Maurício de Nassau, que chegou ao
Recife em janeiro de 1637. No período em que governou o Brasil-holandês, entre
1637 a 1644, Nassau procurou estabelecer uma administração eficiente e um bom
relacionamento com os senhores de engenho da região. Desse modo, foram
colocados a disposição dos proprietários de engenho recursos financeiros, para
serem utilizados na compra de escravos e de maquinário para o fabrico do
açúcar.
Nassau
também criou as Câmaras dos Escabinos, que eram órgãos de representação
municipal, a fim de estimular a participação política da população nas decisões
de interesse local. Durante o governo de Nassau, as vilas de Recife e Olinda
passaram por um intenso processo de urbanização e melhoramentos que mudaram
completamente a paisagem local.
Com o fim do
domínio espanhol sob Portugal, em 1640; o novo rei português, D. João 4º,
decidiu recuperar o Nordeste brasileiro retirando-o do domínio holandês. Esse
período coincidiu com o descontentamento dos senhores de engenho do Nordeste
brasileiro diante dos holandeses. Nassau já havia partido e, para explorar ao
máximo a produção do açúcar brasileiro, a Holanda adotou inúmeras medidas
impopulares, em especial o aumento dos impostos, o que contrariava os
interesses dos proprietários de engenho.
Batalhas
contra os holandeses
A luta
contra os holandeses no Nordeste brasileiro foi iniciada pelos próprios
senhores de engenho da região e durou cerca de dez anos. Sob iniciativa dos
senhores, os colonos da região foram mobilizados e travaram várias batalhas
contra os holandeses. As mais importantes foram a de Guararapes e Campina de
Taborda.
Mas a
expulsão definitiva dos holandeses teve início em junho de 1645, em Pernambuco,
através da eclosão de uma insurreição popular liderada pelo paraibano André
Vidal de Negreiros, pelo senhor de engenho João Fernandes Vieira, pelo índio
Felipe Camarão e pelo negro Henrique Dias. A chamada Insurreição Pernambucana,
chegou ao fim em 1654, tendo libertado o Nordeste brasileiro do domínio
holandês.
Porém, a
expulsão dos holandeses do território brasileiro teria um impacto negativo
sobre a economia colonial. Durante o período em que estiveram no Nordeste, os
holandeses tomaram conhecimento de todo o ciclo da produção do açúcar e
conseguiram aprimorar os aspectos técnicos e organizacionais do empreendimento.
Quando foram expulsos do Brasil, dirigiram-se para as Antilhas, ilhas
localizadas na região da América Central.
O fim de um
ciclo açucareiro
Lá montaram
uma grande produção açucareira que, em pouco tempo, passou a concorrer com o
açúcar do Brasil e logo se impôs no mercado europeu. Consequentemente, provocou
a queda das exportações brasileiras. Já na segunda metade do século 17, os
engenhos brasileiros estavam em decadência.
Era o fim do
chamado ciclo da cana-de-açúcar na história econômica do Brasil. Restava a
Portugal encontrar outros meios para explorar economicamente a Colônia. Um novo
ciclo de exploração colonial teria início com a descoberta de riquezas minerais
como o ouro, a prata e os diamantes, na região que ficaria conhecida como a das
Minas Gerais.
Renato
Cancian
Especial
para a Página 3 Pedagogia & Comunicação * Renato Cancian é cientista
social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais, é autor
do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política
-1972-1985" (Edufscar).