Prefácio
Posted byWagner Orlandi dos Santos Jornalista |
A ciência literária doa o
convencimento, a certeza, enquanto a poesia oferece a emoção e o entusiasmo
nesta magnífica leitura, relatando verdadeira história dentro do lirismo poético
do escritor E. C. Sette, autor de K’sara Brasil, utilizando a psicologia
humano-dramatizada.
Procedentes dos Congos da
África, centenas de milhares de negros-escravos, transportados em porões de Navios
Negreiros, varando as ondas tormentosas e tempestuosas dos oceanos, sadios ou
doentes, tinham destino certo para o trabalho forçado, acompanhados e
fiscalizados pelo Capitão-do-Mato, feroz carrasco que suspendia o corpo nu do
escravo, no couro, amarrado no tronco, recebendo chicotadas que lhes rasgavam a
carne. Sangrando, levados ao banho de salmoura, voltando ao trabalho,
amargurado ou comercializado em praça pública, vendido àqueles que lhes dessem
mais valor. Os negros-escravos tornaram-se participantes do próprio sistema que
os oprimia, apesar de lançarem mão de todas as formas contra tal sistema.
K’sara/Chico Nego/Francisco de
Assis, rebelou-se, fugiu, mentiu, intrigou, boicotou, negociou e submeteu-se ao
castigo, numa realidade rica e contraditória, como todos são. Com riqueza de
detalhes das torturas prosseguem pelas páginas adiante, trazendo recordações
sofridas, desde o aparecimento do K’sara, à execução sumária de famílias, ao
domínio e posse dos filhos-escravos, castigados.
Esse imaginário da escravidão
tornou-se um depositário de memórias. Essas coisas da escravidão doem, porém,
fortalecem o pensamento e a narrativa do autor de K’sara Brasil, descrevendo os
grandes acontecimentos que marcaram a vida violentada e marginalizada da raça
negra.
K’sara/Chico Nego/Francisco de
Assis, incrédulo, conquistou a alforria, ingressando no mundo dos brancos, mas
preferindo levar consigo sua amada Dasdor para o quilombo, para a liberdade.
Compreendo, enfim, para uma obra
literária ser perfeita, necessário se torna, além de bem executada, seja
honesta, porque a arte de escrever tem uma ação direta da vida e dos costumes.
Parabéns ao autor desta obra, E. C. Sette, ao descrever um passado doloroso da
nossa Pátria-Brasil.
Wagner Orlandi dos Santos é membro da Academia Manhuaçuense
de Letras