Palmares: Promessa de Liberdade

Posted by E. C. Sette


Sol e chuva, dia e noite,
Sob tormentos e açoites
Vai o negro trabalhar.
Arrastar cana para o engenho,
Castigo produz empenho
E faz o negro se matar.
Cabisbaixo e em silêncio
Os pensamentos lhe invadem
E o pensar mais lhe sufoca
A vontade de dizer... De dizer...
“África do meu passado,
Doce mãe da liberdade.
Embora contra a vontade
Me privaram de você.
Hoje aqui tenho um patrão
E o feitor a comandar.
Ronda-me sempre os ouvidos,
A música de um chicote,
Zunindo, cortando o ar”.

Vê quando volta à senzala,
A amada e companheira
Ao seu filho amamentar.
Fita-o com um brilho nos olhos,
Mas a traição da boca
Traduz o dizer do olhar.
“Tu já nasceste um escravo,
Oh! Filho da carne minha.
O cativeiro exige,
Que o teu sofrimento se alastre
Mais do que erva daninha.
Cativeiro podre chaga
Ao qual somos atirados,
Por montes de ignorância,
Homens de poder, bastardos.
Que maltratam a tudo e a todos,
Maltratam aos meus e a mim.
E quando se cai de fadiga
Da dor da chibata maldita,
Não poupam nem Pai Joaquim.

Juntemos tudo e fujamos,
Das trevas à claridade
De não haver mais torturas
E de viver ter vontade.
E respirar novos ares,
No Quilombo dos Palmares,
Promessa de liberdade”.

Autores: Bosco Romualdo / E. C. Sette